Dossier Essayists in Latin America: Ana Pizarro Reis, Lívia Pizarro, María Carolina |
Dossiê Ana of voices Pressler, Gunter Karl Abstract in Portuguese: RESUMO Para homenagear a pessoa e a pesquisadora ímpar Ana Pizarro, optamos por fazer uma leitura sincrônica das suas contribuições sobre Amazônia. Suas abordagens apresentam um olhar conhecido e, no mesmo momento, diferente sobre a região. O artigo aborda o tema a partir das três motivações da autora para se dedicar à região: o desconhecimento no Latino-americanismo, a relação do Chile com a região Pan-Amazônica e a questão das ‘nossas’ utopias e da estética ilustrada (literatura e arte). Os discursos sobre Amazônia apontam para particularidades da visão hispânica (Vale do Amazonas) e da lusófona (Bacia Amazônica) e assumem sempre determinadas situações no tempo histórico e no espaço geográfico. As próprias antigas culturas andinas buscavam o Paraíso, o El Dourado da Paz, e dada a complexa construção de Machu Picchu, podemos perceber que havia um ‘plano’ para penetrar na região amazônica. A perspectivação das abordagens de Ana Pizarro mantém viva a complexidade estrutural e semiótica dos acontecimentos históricos e ela é uma voz importante nesta direção de um novo olhar sobre a região. Livrar-se da perspectiva ocidental significa proferir um discurso diferente do pós-colonial e consistente com o atual denominado “decolonialidade”.Abstract in English: ABSTRACT To honor the unique person and researcher Ana Pizarro, we chose to do a synchronous reading of her contributions on the Amazon. Their approaches present a familiar and, at the same time, different perspective on the region. The article addresses the topic based on the author’s three motivations for dedicating herself to the region: the lack of knowledge in the Latin Americanism, Chile’s relationship with the Pan-Amazonian region and the issue of ‘our’ utopias and illustrated aesthetics (literature and art). Discourses about the Amazon point to particularities of the Hispanic (Amazon Valley) and the Lusophone (Amazon Basin) vision and always depart from certain situations in historical time and geographical space. The ancient Andean cultures themselves were searching a Paradise, The Golden Land of Peace and given the complex construction of Machu Picchu, we can see that there was a ‘plan’ to penetrate the Amazon. The perspectivation of Ana Pizarro’s approaches keeps the structural and semiotic complexities of historical events alive and she is an important voice in this direction of a new look at the region. Getting rid of a Western perspective means delivering a discourse different from the post-colonial and in line with the current one called ‘decoloniality’. |
Dossiê Archipelagos, basins and aquifers: Caribe and Amazonia in Ana Pizarro’s work Donadi, Maria Florencia Abstract in Portuguese: RESUMO: Este artigo se propõe analisar o fio que une dois livros de Ana Pizarro: El archipiélago de fronteras externas (2002) e Amazonía: el río tiene voces (2009). Para isso focamos nas categorias territoriais elaboradas pela autora: arquipélago, bacia e, mais ampla, a área cultural. A hipótese é que entre o arquipélago caribenho e a bacia amazônica se visibilizam as tramas de um projeto colonialista que oculta e espectraliza modos de vida dissidentes ou alternativos à ordem europeia-ocidental, um projeto tentacular de extração de “recursos naturais” e escravização de populações, para os quais o trânsito fluvial e marítimo é fundamental. Propomos que a ponte entre as categorias é a noção de aquífero. Finalmente, sugerimos que essas categorias territoriais permitem dar espaço a novos modos de vida e plurais mundos possíveis, a traves das agências do contágio e do trastocamento, visando alguns casos.Abstract in Spanish: RESUMEN: Este artículo se propone analizar el arco que une dos libros de Ana Pizarro: El archipiélago de fronteras externas (2002) y Amazonía: el río tiene voces (2009), enfocando en las categorías territoriales que la autora elabora: archipiélago, cuenca y, más amplia, la de área cultural. La hipótesis es que entre el archipiélago caribeño y la cuenca amazónica se visibilizan los entramados de un proyecto colonialista que oculta y espectraliza modos de vida disidentes o alternativos al orden europeo-occidental, proyecto tentacular de extracción de “recursos naturales” y esclavización de poblaciones, para los cuales la posibilidad de tránsitos (marítimos y fluviales) es crucial. Proponemos que el puente entre las categorías es la noción de acuífero. Finalmente, sugerimos que esas categorías territoriales permiten dar espacio a nuevos modos de vida y plurales mundos posibles, a través de las agencias del contagio y del trastocamiento, aproximándonos a algunos casos.Abstract in English: ABSTRACT: This paper analyzes the bow between two Ana Pizarro’s books: El archipiélago de fronteras externas (2002) and Amazonía: el río tiene voces (2009), focusing on the territorial categories that the author elaborates: archipelago, basin and, wider, cultural area. The hypothesis is that the lattice of a colonialist project becomes visible when putting together the Caribbean archipelago and the Amazonian river basin. Such project conceals and spectralizes dissident or alternative ways of life to European-occidental models. It is a tentacle-like project aiming “natural resources” extraction and peoples’ enslavement, in which maritime and fluvial transits are central. We propose that the link between categories is the notion of aquifer. Finally, we imply that these territorial categories create space for new ways of life and possible plural worlds, throughout contagion and disturbance agencies, and we name same cases. |
Dossiê The caribbean as a cultural space Figueiredo, Eurídice Abstract in Portuguese: RESUMO Este artigo se propõe a analisar o Grande Caribe como uma área cultural correspondente ao que se pode chamar também de Afro-América. Ele parte da concepção do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, que dividiu a América em três regiões, correspondentes aos diferentes tipos de povoamentos: a dos povos testemunhos (a Meso-América dos povos originários), a América dos brancos que chegaram da Europa (Euro-América) e a América dos “povos novos” (Neo-América ou Afro-América), constituídos pela mestiçagem. O Caribe é aqui concebido não como um espaço delimitado por fronteiras geográficas rígidas, antes, um espaço aberto, de múltiplas variações culturais, que se desterritorializam com as migrações para as grandes capitais onde formam comunidades diaspóricas. A questão da memória da escravidão se conecta também com as da genealogia, da relação com o território e com a história. Uma das características dessa região é o barroco tal como conceptualizado por Alejo Carpentier, Lezama Lima, Severo Sarduy, Edouard Glissant. Carpentier e Glissant afirmam que a América Latina é a terra eleita do barroco porque toda simbiose engendra um barroquismo. O barroco americano estaria ligado também ao realismo maravilhoso tal como apresentado por Carpentier no prólogo do romance O reino desse mundo.Abstract in English: ABSTRACT The aim of this article is to analyze the Great Caribbean as a cultural space analogue to what can be referred to as Afro-America. It is based on the concepts of Brazilian anthropologist Darcy Ribeiro, who divided America into three regions, corresponding to the different types of settlements: that of the testimonial peoples (the Meso-America of the original peoples), the America of European-origined white peoples (Euro-America) and the America of the “new peoples” (Neo-America or Afro-America), constituted by miscegenation. In this article, the Caribbean is conceptualized not as a space delimited by rigid geographic borders, but rather as an open space of multicultural variation, which become deterritorialized with migrations to large capitals where diasporic communities are then formed. The pressing issue of the memory of slavery is also connected with those of genealogy, territory and history. One of the characteristics of this region is the Baroque as conceptualized by Alejo Carpentier, Lezama Lima, Severo Sarduy, and Édouard Glissant. Carpentier and Glissant state that Latin America is the chosen land of the Baroque because every symbiosis engenders barroqueness. Accordingly, American Baroque would also be linked to marvelous realism as presented by Carpentier in the prologue of the novel “The Kingdom of This World”. |
Dossiê Latin American sociocultural areas. The “stars” of the literature of Zerán, Reyes, and Tenório Paraquett, Marcia Abstract in Portuguese: RESUMO A partir da classificação da América Latina em áreas culturais, como sugerido por Ana Pizarro (2004), minha proposta é atualizar essa relevante reflexão, tomando como referência três recentes romances: Limpia, de Alia Trabucco Zerán (Chile); Cometierra, de Dolores Reyes (Argentina), e Estela sem Deus, de Jeferson Tenório (Brasil). Essa nova literatura nos mostra que mais do que culturais, somos atravessados por áreas socioculturais, que nos afetam, independentemente, da língua ou da região onde vivamos. Dentre tantas categorias que os romances abordam, selecionei três por julgá-las muito presentes nos tempos atuais: o misticismo, o racismo e o machismo. As três personagens centrais, narradoras de suas histórias, são, de certa forma, “estrelas” que buscam seu brilho, ofuscado por nuvens pesadas e tão frequentes no cenário político e social de nossa América Latina. Mais uma vez, é a literatura que nos alenta.Abstract in English: ABSTRACT Based on the classification of Latin America into cultural areas, as suggested by Ana Pizarro (2004), my proposal is to update this relevant reflection, taking as reference three recent novels: Limpia, by Alia Trabucco Zerán (Chile); Cometierra, by Dolores Reyes (Argentina) and Estela sem Deus, by Jeferson Tenório (Brazil). This new literature shows us that more than just culture, we are crossed by sociocultural areas, which affect us, regardless of the language or region where we live. Among the many categories that the novels cover, I selected three because I believe they are very present in current times: mysticism, racism and machismo. The three central characters, narrators of their stories, are, in a way, “stars” who seek their shine, overshadowed by heavy clouds that are so frequent in the political and, social scenario of our Latin America. Once again, it is literature that encourages us. |
Dossiê Comparing to reframe: Ana Pizarro and the directions of comparative literature in Latin America Gómez, Facundo Abstract in Portuguese: RESUMO: Ana Pizarro liderou um célebre projeto coletivo dedicado a escrever uma nova história da literatura latino-americana. Um dos principais desafios que a iniciativa enfrentou foi a adoção do método comparativo e sua articulação com as preocupações e orientações da crítica literária local. Nesse contexto, Ana Pizarro refletiu sobre o problema e propôs a necessidade de um “comparatismo latino-americano”. Por um lado, a reconstrução do projeto e dos debates sobre o tema permite iluminar o tópico e contextualizar a intervenção da autora na discussão. Por outro lado, a análise de seu artigo “Sobre los posibles niveles de un análisis comparativo en América Latina” esclarece que sua interpretação das letras regionais está centrada na ideia de heterogeneidade cultural. Seu texto dialoga com as contribuições do comparatismo contemporâneo e converge com suas tendências mais inovadoras. A autora combina uma agenda integradora e outra radicalizada que impactam de forma desigual no desenho da história literária e sugerem um programa de pesquisa crítica ainda relevante. Pizarro reformula assim as propostas do comparatismo com base em um fundamento geopolítico latino-americano, o que implica operações críticas tão complexas quanto originais.Abstract in Spanish: RESUMEN: Ana Pizarro ha liderado un célebre proyecto colectivo dedicado a escribir una nueva historia de la literatura latinoamericana. Uno de los desafíos principales que la iniciativa debió afrontar fue la adopción del método comparatista y su articulación con las inquietudes y orientaciones de la crítica literaria local. En ese contexto, Ana Pizarro ha reflexionado sobre la problemática y ha planteado la necesidad de un “comparatismo latinoamericano”. Por un lado, la reconstrucción del proyecto y de los debates sobre el tema permiten iluminar el tópico y contextualizar la intervención de la autora en la discusión. Por el otro, el análisis de su artículo “Sobre los posibles niveles de un análisis comparativo en América Latina” clarifica que su interpretación de las letras regionales está centrada en la idea de heterogeneidad cultural. Su texto dialoga con los aportes del comparatismo contemporáneo y confluye con sus tendencias más renovadoras. La autora conjuga una agenda integradora y otra radicalizada que impactan de forma desigual en el diseño de la historia literaria y plantean un programa de investigación crítica todavía vigente. Pizarro reformula así las propuestas del comparatismo en función de un anclaje geopolítico latinoamericano, lo que implica operaciones críticas tan complejas como originales.Abstract in English: ABSTRACT: Ana Pizarro has led a renowned collective project dedicated to writing a new history of Latin American literature. One of the main challenges that the initiative faced was the adoption of the comparative method and its articulation with the concerns and orientations of local literary criticism. In this context, Ana Pizarro has reflected on the issue and has proposed the need for a “Latin American comparatism”. On the one hand, reconstructing the project and debates on the topic sheds light on the subject and contextualizes her intervention in the discussion. On the other hand, the analysis of Pizarro´s article “Sobre los posibles niveles de un análisis comparativo en América Latina” clarifies that her interpretation of regional literature is centered on the idea of cultural heterogeneity. Her text engages with contributions from contemporary comparatism and aligns with its more innovative trends. The author combines an integrative agenda with a radicalized one that impact unevenly on the design of literary history and suggest a still relevant critical research program. Pizarro thus reformulates the proposals of comparatism based on a Latin American geopolitical foundation, involving critical operations as complex as they are original. |
Dossiê Approaching today’s cultural fabric: Krenak Pizarro, Ana Abstract in Portuguese: RESUMO: O texto quer se aproximar do tecido móvel que forma a cultura e para isso se refere aos sistemas que a constroem. Um deles é o das culturas indígenas. Este pensamento, segundo Ailton Krenak, considera uma realidade onde o humano é apenas uma parte de um mundo que silencia outras presenças. Hoje a existência desta outra forma de pensamento anteriormente discriminada começa a ser reconhecida. É necessário aceitar que existem diferentes formas válidas de relação com o mundo, para além daquela do Ocidente, que é que a conhecemos e dá origem à nossa forma de modernidade. Krenak confronta a concepção antropocêntrica. O Ocidente não escuta. O pensamento de Bruno Latour, porém, está na linha anterior, promovendo a não separação entre natureza e cultura. Comunidade que é transcendência. É aquela que a literatura e a arte oferecem. É preciso ouvir as histórias dessa outra cosmovisão.Abstract in Spanish: RESUMEN: El texto quiere acercarse al tejido en movimiento que forma la cultura y para esto se refiere a los sistemas que la construyen. Uno de ellos es el de las culturas indígenas. Este pensamiento, de acuerdo a Ailton Krenak, considera una realidad en donde lo humano es sólo una parte de un mundo que silencia otras presencias. Hoy comienza a reconocerse la existencia de esa otra forma de pensamiento anteriormente discriminada. Es necesario aceptar que existen diferentes formas de relación con el mundo válidas, más allá de la de Occidente, que es lo que conocemos y da lugar a nuestra forma de modernidad. Krenak enfrenta la concepción antropocéntrica. Occidente no escucha. El pensamiento de Bruno Latour, sin embargo, se encuentra en la anterior línea, al propulsar la no separación entre naturaleza y cultura. Comunidad que es trascendencia. Es la ofrecida por la literatura y el arte. Es necesario escuchar los relatos de esta otra cosmovisión.Abstract in English: ABSTRACT: The text wants to get closer to the moving fabric that forms culture and for this it refers to the systems that build it. One of them is that of indigenous cultures. This thought, according to Ailton Krenak, considers a reality where the human is only part of a world that silences other presences. Today the existence of this other previously discriminated form of thought is beginning to be recognized. It is necessary to accept that there are different valid forms of relationship with the world, beyond that of the West, which is what we know and gives rise to our form of modernity. Krenak confronts the anthropocentric conception. The West does not listen. Bruno Latour's thought, however, is in the previous line, promoting the non-separation between nature and culture. Community that is transcendence. It is the one offered by literature and art. It is necessary to listen to the stories of this other worldview. |
Dossiê Ana Pizarro: The Latin American Experience and the Life of Books. Conversation with Margara Russotto Pizarro, Ana Russotto, Márgara |
Varia From redeeming silenced voices to decolonial cosmopolitanism Rendeiro, Margarida Abstract in Portuguese: RESUMO O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX constitui um marco na literatura portuguesa pós-colonial e a sua receção indica que tem ganho cada vez mais reconhecimento público. Mais recente é a visibilidade da literatura produzida pela diáspora brasileira indígena em Portugal. Tanto uma como a outra tem sido, na sua esmagadora maioria, de autoria de mulheres. Partindo de teorias decoloniais, o presente artigo explora Memórias Aparições Arritmias (2021), de Yara Nakahanda Monteiro, e Ixé Ygara voltando pra’Y’Kûá (2021), de Ellen Lima, para argumentar que: (1) em ambas as escritas, encontramos sentimentos semelhantes de (des)pertença; (2) e que a escrita se enquadra numa práxis decolonial que desconstrói os assombramentos do imaginário colonial e imperial que ainda persistem. A autoria brasileira indígena confere densidade temporal a uma modernidade colonial em língua portuguesa e expande as discussões que têm sido desenvolvidas em torno das implicações da escrita portuguesa afrodescendente. Sugere-se a possibilidade de pensar um cosmopolitismo decolonial que permita maneiras pluriversais de pensar o mundo em língua portuguesa e defende-se que, em última análise, a escrita portuguesa afrodescendente e brasileira indígena produzida em Portugal permitem pensar até que ponto a literatura pode contribuir para uma discussão sobre reparações.Abstract in English: ABSTRACT The emergence of Afro-Portuguese literature during the second decade of the 21st century constitutes a landmark in Portuguese postcolonial literature and its reception indicates that it has been gaining more and more public recognition. More recent is the visibility of Brazilian indigenous diaspora writers in Portugal. This paper explores Yara Nakahanda Monteiro’s Memórias aparições arritmias (2021), and Ellen Lima’s Ixé Ygara voltando pra’Y’Kûá (2021) to argue that (1) they both convey a sense of displacement and (un)belonging; and (2) their writing is part of a decolonial praxis to deconstruct the Portuguese colonial and imperial imaginary. Immigrant Brazilian writers convey time density to the wider project of colonial modernity in Portuguese language. This global perspective expands the discussion on the postcolonial experience that has essentially been centered on the experience of African descent and raises the possibility of imagining a decolonial cosmopolitanism that enables pluriversal ways of feeling the world in Portuguese language. This writing contributes to thinking reparations to present-day persisting colonial imaginary. |
Varia “Une question de musique”: The epistolary dialogue between Eugénio de Andrade and Michel Chandeigne on the french translation of Os lugares do lume Petriglia, Marcella Abstract in Portuguese: RESUMO Eugénio de Andrade guardou muitos documentos relativos às traduções das suas obras, entre os quais estão as correspondências com alguns dos seus tradutores. Neste artigo, analisaremos a troca por fax das versões francesas de alguns poemas de Os lugares do lume realizadas por Michel Chandeigne e acompanhadas por bilhetes. O diálogo centra-se em unidades de tradução que os remetentes comentam, a partir do título. Além de permitir extrapolar a poética do tradutor e a poética de Eugénio de Andrade como tradutor, o material analisado (totalmente inédito) constitui um exemplo de troca epistolar integrando o dossiê genético de uma tradução.Abstract in English: ABSTRACT Eugénio de Andrade kept many documents related to the translations of his works, among which the correspondences with some of his translators. In this paper, we analyze the French translation of some of the poems included in Os lugares do lume realized by Michel Chandeigne and sent by fax by the translator himself, along with some notes. The dialogue between the two focuses on translation units which they comment, starting from the title. We get information about the translator’s poetics and the poet’s poetics as a translator; the analyzed material (totally unpublished) is also an example of epistolary exchange as part of a translation’s genetic dossier. |
Varia Speak about Oneself: Between Aesthetics and Ethics in Michel Foucault Pugliesi, Lucas Bento Gutierrez, Maurício Chamarelli Abstract in Portuguese: RESUMO O presente artigo pretende analisar as relações possíveis entre a escrita, a literatura e uma concepção de si, ao longo da obra de Michel Foucault. Para tanto, partimos das considerações presentes em “O diário íntimo e a narrativa” de O livro por vir, de Maurice Blanchot, que, segundo nossa hipótese, fornece o paradigma de compreensão dessas relações no Foucault dos anos 1960. Foucault herda de Blanchot a concepção da literatura como instância de desaparecimento do Eu. Esse paradigma se inverterá no momento genealógico dos anos 1970, quando Foucault virá a conceber a literatura sempre como prática simpática ao exercício do poder: não mais capaz de dar vazão a uma potência de negação de toda soberania, a literatura se torna mais um dos discursos que forjam uma interioridade governável e dócil no sujeito, ao forçá-lo a falar de si. Por fim, já nos anos 1980, Foucault parece retornar a um aproveitamento afirmativo da literatura e da arte. Em consonância com o privilégio da ética que marca esse período de sua obra, esse retorno à estética será configurado por uma inovadora compreensão da arte, que a considera menos como forma de compor obras do que como espaço de uma invenção de si mesmo.Abstract in English: ABSTRACT This paper intends to analyze the possible relations between writing, literature and the Self throughout the works of Michel Foucault. To do so, we begin with a commentary on Maurice Blanchot's “The daily journal and the narrative” from The Book to Come, that provides the paradigm according to which Foucault understands these relations in the 1960s. The French philosopher inherits from Blanchot a conception of literature as an instance where the Self disappears. This paradigm will change when, turning to his genealogic phase during the 1970s, Foucault will conceive all literature as linked to the exercise of power: no longer able to unearth a potency that negates all sovereignty, literature becomes another discourse that fabricates a governable and docile interiority by forcing a subject to talk about himself. Finally, in the 1980s, Foucault returns to an affirmative consideration of literature and art. In line with the privilege of ethics - evident in this phase of his work -, this return to aesthetics will be marked by an understanding of art that innovatively considers it less a form of creating works than a place to invent oneself. |